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terça-feira, 19 de novembro de 2013

Espírito tem forma?


Espírito tem forma? - por Douglas Fersan

Um tabu que permeia o meio umbandista é aquele sobre as imagens das entidades.  Como realmente seria o Caboclo Tupinambá?  Qual a aparência do Exu Marabô?  Com quem se parece o Preto Velho Pai João Benedito? 

Nossos olhos, extremamente humanos e carnais pedem uma representação - isso não acontece somente na Umbanda, a Igreja Católica faz uso das imagens há séculos a fim de estabelecer um elo entre o fiel, sua fé e o santo representado.  O princípio dessa lógica na Umbanda não é muito diferente, porém temos, em nossa religião, uma particularidade a essa respeito.

Em primeiro lugar, sabemos que as entidades de Umbanda trabalham em falanges, isso significa, na prática, que não existe apenas um Caboclo Tupinambá, um Exu Marabô ou um Preto Velho Chamado Pai João Benedito.   Existem sim várias -  centenas ou milhares - entidades que trabalham em cada uma dessas falanges e, como a Umbanda é uma religião que prima pela humildade, pelo trabalho sem estrelismos, cada um dos trabalhadores dessas falanges assume o nome de seu líder.  Isso explica porque baixam dois, três ou mais Zés Pelintras num mesmo terreiro, no mesmo momento: porque são diversos trabalhadores da mesma falange usando o mesmo nome.

Mas e quanto à sua forma física?  Ou melhor, quanto à sua forma espiritual?  Será que todos aqueles que se apresentam como Zé Pelintra são negros e vestem terno branco e chapéu panamá?  Se houver essa regra quanto à aparência, algo não faz sentido nessa história de os espíritos trabalharem em falanges.

Uma coisa que chama a atenção é o fato de os caboclos, que representam e estereótipo do nativo brasileiro, ser muitas vezes representados como os caciques estadunidenses, com aqueles cocares típicos que se arrastam ao chão.  Mais alguma coisa não faz sentido.

É provável que as pombogiras sejam realmente bonitas, isso faz parte do seu estereótipo, mas por que será que alguns insistem em representá-las, tanto nas pinturas como nas imagens de gesso, com roupas vulgares (diferente de sensuais) e às vezes até seminuas?  Será que alguns umbandistas querem reforçar o senso comum de que elas eram prostitutas.  Erro crasso, e se alguém discordar, que venham as pedras, não caio no senso comum.

Os compadres exus provavelmente são os que mais sofrem com as deturpações sobre a sua imagem.  Basta ir a uma loja de artigos de Umbanda para encontrarmos imagens de exus com chifres, pernas de bode e rabo com uma seta na ponta.  Existe até uma explicação histórica para isso: a fim de manter os intolerantes afastados, usava-se essas imagens para assustá-los e evitar que profanassem os trabalhos entregues em encruzilhadas e outros pontos de força.  Porém essa interpretação das coisas parece ter apenas se reforçado com o tempo.  Tendo exu um caráter extrovertido, talvez até tenha se divertido (e se utilizado) dessa situação em algum momento, mas não podemos tomar isso como via de regra.

Certa vez, conversando com o Exu Pimenta, ele me disse ser um senhor muito respeitável e como tal, gostava de estar sempre elegante e com boa aparência, mas que as pessoas insistiam em representá-lo de uma forma assustadora.  Disse que o seu trabalho independia dessa imagem que haviam criado para ele, mas que havia um equívoco nela.

Muitas vezes esquecemos que espírito não tem forma, é energia.  É provável que muitas vezes assuma a forma que lhe convém.  Mas que fique bem claro: que convém a ele, e não a nós, que temos a infantil tendência de mistificar e folclorizar as entidades que tanto nos servem.  Um pouco de estudo e critério nesse assunto com certeza nos seria útil, pois nos faria mais respeitados se fôssemos menos folclóricos.

Umbanda é religião, não é folclore.



Texto de: Douglas Fersan.
Tirado do Blog: Umbanda em Defesa
Imagem do Facebook: Lar do Preto Velho

Uma breve história de Exu




Caminhava pela rua tranquilamente. Ao se aproximar de uma encruzilhada percebeu dois homens vindo sorrateiramente em sua direção. Certamente era um assalto ou coisa parecida, ninguém se aproxima assim, de forma furtiva, sem ter más intenções.

_Laroyê seu Tranca-Ruas - pensou, com muita fé, chamando pelo seu guardião.

Os meliantes se aproximaram, um deles com um punhal em riste, pronto para atacar, mas no momento em que daria o bote começou a tremer, assim como seu companheiro de crimes. 

_O que é isso? - perguntou um dos marginais, apavorado

O outro sequer respondeu, saiu em disparada, seguido pelo comparsa que deixou cair o punhal no chão e nem sequer se deu ao trabalho de pegá-lo de volta.

Respirando aliviado, o rapaz que seria vítima do assalto perguntou a si mesmo o que teria acontecido.  Foi quando ouviu uma voz atrás de si:

_Chamaste por mim e jamais deixei de atender um amigo.

O rapaz agradeceu em pensamento e seguiu seu caminho.  Ainda pôde ouvir uma gargalhada vinda da encruzilhada, mas não se preocupou em olhar para trás, sua fé lhe bastava.

Laroyê senhor Tranca-Ruas.



Texto de: Douglas Fersan
Retirado Blog: Umbanda em Debate
Imagem Tirada do Blog: Exu e Pomba Gira na Umbanda

A origem do Ogan



Num tempo muito distante, o orun (ceu) era lugar de grandes festas. Os orixás (protetores de cabeças) lá se reuniam para celebrar a vida. Exu era o grande animador daquelas festas porque era ele quem tocava os tambores e 
que entoava as mais belas e alegres cantigas. E ele ficava todo prosa por exercer tal função. Certo dia, entendendo que estava difícil conversar ao mesmo tempo em que o som dos tambores ecoavam, os orixás pediram para Exu que parasse com aquela cantoria e toques. E assim se deu: Exu deixou de 

tocar e cantar nas festas.

 Sem muita demora, os orixás perceberam que festa sem tambores e sem cantoria, não era festa. Eles se reuniram novamente e decidiram pedir para que Exu voltasse com toda a animação. Mas ele não aceitou: estava profundamente magoado com o pedido do grupo, uma vez que ele desempenhava tais atividades com tanto fervor e o impediram de continuar. Os orixás insistiram bastante até que Exu disse: “Perdi totalmente a vontade de cantar e tocar para vocês, mas vou passar a tarefa para a primeira pessoa que se colocar na minha frente”.


 E assim aconteceu. Ogan, um jovem rapaz caminhou na direção de Exu. Exu olhou para ele e o escolheu para inicia-lo na arte dos cânticos e toques em louvor aos orixás. Ogan, prontamente aceitou o convite de Exu, era rapaz esforçado e que queria aprender.

 Tão bem Exu o ensinou Ogan e Ogan tão bem aprendeu a animar as festas dos orixás que em sua homenagem, Exu estabeleceu que todo o homem responsável por animar as festas dos orixás deveria receber o cargo de Ogan.








Autor desconhecido.
Texto Tirado do Blog: Umbanda em Debate
Imagem tirada da Web:Em Defesa da Umbanda

'Sua curiosidade vai fazer você encontrar o caminho certo' Atotô Obaluaê